quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Carta 5

 Querido Romeu,


tu sabes tão bem quanto eu, que eu tenho uma dificuldade extrema em esquecer o que me disseram. É o meu superpoder. Esquecer-me de tarefas que tenho de fazer é fácil, agora esquecer o que me foi dito, não é possível.

Sabes, a memória pode ser muito minha amiga, no entanto, também pode ser bastante fodid*. Porque eu gostava, oh-se-gostava, de ser capaz de esquecer. Olha, gostava de poder beber veneno (aquele que me deste e eu tomei sozinha a achar que ias beber também, lembras-te?) e esquecer tudo. TUDO. 

Só que não dá. E as palavras que me disseste ecoam na minha cabeça, fazem ricochete nas paredes do meu cérebro e assombram-me à noite. Por que razão escolheste aquelas palavras?

Sabes, Romeu, nunca percebi muito bem as pessoas que explodem e dizem o que lhes vai na alma ou na língua, sem pensarem bem no que dizem. Não me cabe isso no entendimento, já que eu sou muito ponderada no que digo e penso no efeito que pode ter no outro. Se calhar pondero a mais, não te parece? Em comparação contigo, sem dúvida que sim.

Sabes, há uma coisa que não entendo. Como é que foste capaz de vomitar semelhantes palavras, sem pensares bem no efeito que elas tinhas (quero acreditar que não fizeste de propósito para me magoar), sabendo que eu lembrar-me-ia para sempre delas? O que raio te deu?

Não dá para sermos egoístas e só pensarmos em nós e depois pedirmos desculpa e achar que um ups, não escolhi a palavra certa resolve tudo. Não dá. Para mim, não dá.


Mas o que dá para mim já não te interessa, não é verdade?

Pois olha, interessa-me.

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